Alguém sabe o que Raul seixas quis dizer nessa Música? (senhora dona persona)?

Resultado de imagem para a pedra do genesis

Os personagens de Raul Seixas De Deus a Judas, de mensageiro do Diabo a filho do Sol, de anarquista libertário a egoísta, de jovem contestador a aposentado indignado...2 a cada música um personagem, um ponto de vista, uma perspectiva da vida; a cada música um ouvinte, um destinatário: o operário , a prostituta, o jovem conformado, a ‘indesejada das gentes’, a esposa, o hippie, os teóricos da vida3. Eis algumas das máscaras de um bobo da corte que nasceu para ser ator, embora fingisse ser cantor e compositor: Eu costumo dizer que eu sou um tão bom ator que eu finjo que sou compositor e cantor e todo mundo vai na onda (Raul Seixas entrevistado por Marília Gabriela, You Tube, 1983)
Resultado de imagem para a pedra do genesis 
 Pois nessa vívida carreira de ator, Raul veste-se de figuras cotidianas, fala de acontecimentos triviais, de dúvidas corriqueiras, de angústias existenciais, de emoções arrebatadoras. Trocando continuamente suas máscaras, traz para suas músicas os dramas da vida e ensina o ouvinte a “estimar o herói escondido em todos os seres cotidianos”, bem como a “arte de olhar a si mesmo como herói, à distância e como que simplificado e transfigurado”4. Raul encena, em seu fabuloso palco musical, o teatro da vida. Um baile de máscaras Primeira máscara: Deus Alô, aqui é do céu Quem tá na linha é Deus Tô vendo tudo esquisito O que que há com vocês Por favor, não deixem a peteca cair Que o diabo diz que vai baixar de uma vez por aí Eu fiz vocês como eu Imagem e perfeição E vocês anarquizando A minha reputação Não é só novena, terço e oração Em vez de resmungar eu quero é ver Vocês em ação Vocês em ação Foram milhões de anos dedicado a vocês Fazendo vossas cabeças, não fui eu quem marquei [...] (Raul Seixas. DDI, Raul Seixas, 1983).


  Numa levada ‘rock progressivo’, Raul ataca em tom profético. Nessa música entra em cena Deus, um Deus moderno que usa o telefone para falar com suas criaturas em fábula intitulada D.D.I. (Discagem Direta Inter-estelar). Indignado com os rumos da humanidade, o soberano resolve entrar em contato com seus homens por meio desse sofisticado meio de comunicação. Avisa-os dos riscos que correm caso deixem a ‘peteca cair’, caso deixem seu nome sujo na praça, caso continuem ‘anarquizando sua reputação’. E alerta: “não adianta ficar rezando, falando, reclamando, é preciso fazer alguma coisa, é preciso uma atitude. Se o diabo baixar de uma vez por aí, se o mal acontecer, vocês já estão sabendo, a responsabilidade não é minha. Além do que, se alguém ligar para vocês dizendo ser eu, pode ser um trote do Diabo que já desceu”. E então, para finalizar a música, uma voz sombria ao fundo diz: “Eu já estou aqui.” Segunda máscara: Judas Lançado em 1978, o Judas de Raul reivindica o direito de contar sua versão da história, daquela famosa história da traição de Cristo, de onde ele, o discípulo escolhido, saiu amaldiçoado, responsabilizado pela ‘marca sagrada da cruz’ que pesa sobre a cristandade ao longo de todos esses séculos. 

O caso curioso é que, nesse mesmo ano, apenas alguns meses antes do lançamento de Mata Virgem, foi descoberto, nas areias do deserto de El Minya, no Egito, um manuscrito encadernado em couro, datado do século III que, traduzido para o português, chamou-se O Evangelho de Judas5. Teria Raul se inspirado nesse acontecimento? No vídeo clipe da música, veiculado na época pelo Fantástico, Rede Globo, Raul interpreta Judas. Vestido com uma túnica branca à moda dos pastores de rebanhos, carrega por cima um manto vermelho. Caminhando sem direção pelo deserto, leva também uma corda e um saquinho com moedas. Ao longo do percurso, canta: Parte de um plano secreto Amigo fiel de Jesus Eu fui escolhido por ele Para pregá-lo na cruz Cristo morreu como um homem Um mártir da salvação Deixando para mim seu amigo O sinal da traição. [...] Se eu não o tivesse traído Morreria cercado de luz E o mundo hoje então não teria A marca sagrada da cruz E para provar que me amava Pediu outro gesto de amor Pediu que o traísse com um beijo Que minha boca então marcou. [...] (Raul Seixas. Judas, Mata virgem, 1978) Terceira máscara: Mensageiro do Diabo Rock n’roll da pesada, com direito a trio de metais e órgão, o Rock do Diabo também virou vídeo clipe. Raul, de vermelho, se coloca a frente da banda. Mais ao fundo é projetada uma tela ampliada do Salvador Dalí: Mercado de escravos com o busto desaparecido de Voltaire. Uma imagem surrealista que surge no cenário e subliminarmente sugere a ligação dos escravos africanos com o rock. Diabo O diabo usa capote É rock! É toque! É forte Diabo Foi ele mesmo que Me deu os toques Enquanto Freud Explica as coisas O diabo fica dando os toques Existem dois diabos Só que um parou na pista Um deles é o do toque O outro é aquele do exorcista [...] (Raul Seixas. Rock do Diabo, Novo Aeon, 1975) O personagem-narrador coloca-se como mensageiro do Diabo, aquele que passa adiante ‘os toques’ do pai do rock. Todavia, anuncia que há um cuidado a ser tomado: ‘existem dois diabos’. Os que procuram pelo pai do rock devem saber diferenciá-lo ‘daquele que parou na pista’. Esse segundo, o ‘do exorcista’, é também o que normalmente figura nas explicações psicológicas, pois é sabido que, o que alguns chamam de loucura, outros chamam de possessão. Quarta máscara: anarquista libertário Anarquista, o personagem-narrador de A maçã endereça seu discurso à sua mulher. Em coral com Émile Armand e Errico Malatesta, por exemplo, o marido tenta evitar a cristalização dos sentimentos sugerindo a liberdade sexual. Para ele, a monogamia ‘profana o amor de todos os mortais’ ao barrar o livre fluir do desejo. O amor, acredita, deve circular entre outras pessoas para não se gastar, para não se empobrecer. Para ele, o amor deve ser livre. [...] Se eu te amo e tu me amas Um amor a dois profana O amor de todos os mortais Porque quem gosta de maçã Irá gostar de todas Porque todas são iguais Se eu te amo e tu me amas E outro vem quando tu chamas Como poderei te condenar Infinita tua beleza Como podes ficar presa Que nem santa num altar [...] (Raul Seixas. A maçã, Novo Aeon, 1975) A liberdade dá longevidade ao amor. Tal como manifesto por Malatesta no texto “Amor e anarquia”, do livro Socialismo e anarquia, o personagem deseja que os “homens e mulheres possam amar-se e unir-se livremente apenas por amor, sem nenhuma violência legal, econômica ou física6. Mas, continua Malatesta, [...] a liberdade, mesmo sendo a única solução que podemos e devemos oferecer, não resolve radicalmente o problema, pois o amor, para satisfazer-se, tem necessidade de duas liberdades que concordam e que frequentemente discordam; e deve-se levar em conta que a liberdade de fazer o que se quer é uma frase desprovida de sentido quando não se sabe o que se querer. (Malatesta, Amor e anarquia) Esse descompasso de duas liberdades, esse recorrente dilema que gravita entre o domínio da alma e do corpo de outrem e a liberdade dos sentimentos é vivenciada também pelo personagem de Raul Seixas. Ele diz: [...] Quando eu te escolhi Para morar junto de mim Eu quis ser tua alma Ter seu corpo, tudo enfim Mas compreendi que além de dois existem mais Amor só dura em liberdade O ciúme é só vaidade Sofro, mas eu vou te libertar O que é que eu quero Se eu te privo Do que eu mais venero Que é a beleza de deitar (Raul Seixas. A maçã, Novo Aeon, 1975) Quinta máscara: aposentado indignado Essa é a voz de um cidadão aposentado que, desde a juventude, veio tropeçando nos modelos pré-estabelecidos de vida. Desconfiava dos costumes aceitos e até estimulados pelo seu ambiente cultural. Quando jovem, planejava se comunicar com ‘seres vindo do espaço’, porém, antes mesmo que a empreitada fosse realizada, sua garota lhe deu a seguinte notícia: ‘você vai ver tudo no cinema’. Indignado, o homem argumenta: ‘e onde está a vida?’, ‘cadê a experiência?’, ‘querem trocar minha vivência em nome da ciência?’, ‘e a minha independência?’. 

E eis que a vida passa e o homem medita a respeito de sua história: Durante a vida inteira eu trabalhei pra me aposentar Paguei seguro de vida para morrer sem me aporrinhar Depois de tanto esforço patrão me deu caneta de ouro Dizendo enfia no bolso e vá se virar Tá na hora da velhice Tá na hora de deitar Tá na hora da cadeira de balanço, do pijama, do remédio pra tomar Oh! Divina providência (ência) E a minha independência Ah! E minha vida E minha vida! Onde é que está (Raul Seixas. Tá na hora, Mata virgem, 1978) 
Resultado de imagem para a pedra do genesis

Postado por maria s. santos às 23:08/ http://historiasuspeita.blogspot.com.br/2012/04/os-personagens-de-raul-seixas_17.html

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

25 CURIOSIDADES E SEGREDOS SOBRE RAUL SEIXAS

VIDEO Entrevista :Empregada doméstica fala de Raul Seixas